Solidão da adoção
Certo dia chegou naquela simples casinha, que mal cabia as sete pessoas que ali moravam, adornada senhora, onde o sibilar de seus balangandãs soavam como sinos aos ouvidos daquela pobre criança, o cheiro do perfume daquela ilustre dama exalava um olor suave, como se fosse a própria rosa, ali na sua frente a fitar-lhe, aquela pobre criança experimentou a sensação mais bela para si, até o momento que fora escolhida para seguir tão rica pessoa.
Sua mãe não se encontrava em casa no momento, logo, ela não podia contar com tal ajuda, sua tia que de pronto aceitou o pedido de tão adornada mulher, em levar a criança por ela escolhida, aquele pequeno ser, sem poder retrucar por medo de levar umas palmadas, de cabeça baixa, coração dorido, a seguiu em silêncio, pois tinha certeza de que quando sua mãe chegasse, ah! Minha mãe vem me buscar pensou a pobre criança.
Sem noção do tempo que passava e passava. A criança, todos os dias sentava à porta esperando sua mãe aparecer no início da rua para busca-la, e se passara muitos anos sem que tal visão tivesse aquela criança, que também tratou de fazer de tudo para que aquela abastada senhora, a levasse de volta para sua mãe, nada adiantou, nem mesmo quando ela adentrava na casa dos vizinhos também muito elegantes batia em seus filhos, jogava lixo no chão, pegava os brinquedos daquelas crianças chatas e quebrava, fazia de tudo, pois acreditava que aquilo seria a certeza de sua volta para sua casa de origem simples, mais era a sua casa, a sua família.
E de repente a rua se transformou num alvoroço só, os vizinhos revoltados fizeram filas na porta da tal senhora que espalhara para vizinhança, que agora tinha uma filha, a sua filha! Mais cada vizinha apresentava uma queixa, e a criança, que se parecia mais com um pequeno demônio, de cabeça baixa, mais por dentro dava risadas quando pensava na cena daqueles vizinhos saindo dali e ela quietinha que quem olhasse diria que se tratava de um anjinho, e aquela linda e bondosa senhora falava com toda educação, “minha filha jamais cometeria tal atitudes, vocês estão com preconceito em relação a minha filha, pois saibam que eu a amo!”.
Quando enfim, os vizinhos iam-se embora, aquela linda bondosa e caridosa senhora olhava para aquele pequeno ser pegava em suas pequeninas mão e dizia, “eu sei que você fez tudo isso minha querida filha, saibas que eu te amo viu?!”. Mas a única coisa que aquela criança queria, era voltar para sua casa, para sua mãe biológica, nada mais.
E naquele pequenino coração se instalou a solidão, ela deixou de fazer tudo que fazia, pois percebeu que nada adiantaria, ela permaneceria ali, com aquela mulher, silenciou e passou a viver introspecta, não tinha vontade para mais nada, os seus olhos entristecera, ela começou a sentir as pessoas como elas verdadeiramente são, ou boas, ou ruins, ou fingidas, ou tristes, ou ausentes, dali em diante, ela nunca mais se sentiu sozinha, descobriu em si a sua verdadeira companhia protegida pelo amor de Divino.
De forma que, não adiantará alguém hoje falar em sentimentos para aquela criança, que cresceu, mas continua perdida num tempo esquecido, abandonada, desamada, pois todo e qualquer sentimento, antes que se fale, ela já os sente sejam eles verdadeiros ou não, a ilusão não faz parte do seu ser, ela vive a realidade, não vive momentos e sim uma vida, não se entrega em falsos amores. A tristeza ronda-a de quando em vez, mas, ela sorri e segue…
Ela não permite que nada mais adentre seu coração, que tão dorido foi obrigado a crescer de forma prematura, se tornando em algo intransponível ao desespero, impaciência, mentiras, ódio, culpa e ou engano, a vida a fez forte, portanto, só permanecem com ela, aqueles que compartilham o ambiente propício para se estabelecer.
Aparecida Camilo , Advogada atuante e Pós-Graduada em Língua Portuguesa, durante seu tempo por aqui entre todos que denominamos humanos, sempre lidou com pessoas. Não seria diferente a escolha de sua profissão. Trabalhou pouco em sua vida, mas sempre gostou de estudar e estudou um pouco. Não saberia dizer em que idade se encontra, pois tem dia que vive a sapiência e o silêncio dos 100 anos, outro vive o glamour dos 20, outro a introspecção dos 40, e ainda tem aquele dia que ela vive somente a teimosia dos 5 anos de idade, em seu Registro de Nascimento consta que ela completou 54, com gratidão a este Universo tão vasto e bonito que nos faz sonhar e esperançar, que chamamos Deus e vive sempre com as possibilidades que a vida apresenta, o seu lema é: viver um dia por vez, aprendizado que obteve ao longo de sua vida e espera ainda viver na serenidade.
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