Dar visibilidade a um assunto tão relevante é possibilitar que um maior número de pessoas passem a ter acesso a pontos de vistas às vezes divergentes, porém necessários para a ampliação de conhecimento e buscas de soluções.
Na área da saúde essa dinâmica de interesses por determinados doenças, distúrbios, transtornos vão fazer com que muitos profissionais busquem ampliar seu domínio sobre a questão, investindo em pesquisas e encontrando métodos de abordagens e tratamentos, além do aumento em investimentos públicos na área em busca de melhores estratégias de acompanhamento e controle.
O suicídio, questão considerada relevante para a saúde pública, devido ao número excessivo de ocorrências mundiais (800 mil ao ano – dados da OMS), resultado de diversas tentativas, que impactam nos serviços de emergência em saúde, além das questões emocionais negativas acarretadas em familiares e amigos próximos.
Infelizmente, os dados apresentados no Brasil não são fidedignos e suficientes para retratar a realidade, e isso se dá devido as subnotificações de casos, muito embora desde 2011 a notificação tenha passado a ser compulsória para os casos de violência autoprovocada (Portaria 104/2011 e 1.271/2014 – MS). Sabe-se através dos dados epidemiológicos que a maioria de mortes por essa causa é de homens, embora as mulheres tentem tirar a própria vida muito mais do que os homens, porém com menor sucesso.
Segundo dados do Ministério da Saúde, os números no Brasil vem aumentando consideravelmente. Conforme relatórios de 1996 a 2016, a variação da taxa foi de 29,4% (vide Sistema de Informação sobre mortalidade – SIM/DATASUS), contrariando o plano de ação de Saúde Mental da OMS no período entre 2013-2020, para os Estados-Membros em reduzir as taxas de suicídios em 10%.
Suas causas são consideradas multifatoriais, podendo ser impulsionadas por questões de transtornos mentais ou ter dimensões sociais e econômicas, segundo Durkheim (1886).
As tentativas prévias são fortes fatores de risco para novas tentativas, o que comprova como pano de fundo um “sofrimento” que deve ser considerado como uma das causas que impulsionam tal atitude.
Falarmos das questões subjetivas de cada um, reconhecer a fragilidade inerente dos seres humanos, nos indiferenciando enquanto finitos e, portanto, sabedores da incapacidade de controle, poderá ajudar a diminuir os tabus que rondam esse tema e que contribuem por estigmatizar ainda mais aqueles que necessitam de ajuda principalmente em momentos de crises existenciais.
Somos seres constituintes de um tempo e lugar, influenciados e influenciadores da cultura e da sociedade, sofrendo a opressão, mas também importante reconhecer como agentes dela.
Precisamos nos sensibilizar, criar um ambiente mais acolhedor para os que sentem vergonha e os que têm medo do julgamento de seu sofrimento, temor que revela uma dor imensa em viver numa sociedade em que somos vítimas e algozes uns dos outros, simultaneamente.
Será somente por meio da conscientização, da educação, do respeito às diferenças e de criar possibilidades de escuta sem julgamentos e moralismos para com aqueles que sofrem, que daremos os primeiros passos para a prevenção ao suicídio.
Lilian Tavares, psicóloga e gerontóloga social, atuante na área de saúde mental.
Contatos: @lilianpsisaudemental e www.escutatoriaterapeutica.com.br